Brasília completa 65 anos nesta segunda-feira, 21 de abril. Aquele dia em 1960 marcou não apenas a inauguração da nova capital. A data também selou a transferência do Poder Legislativo do Rio de Janeiro para o Planalto Central.
Pela Constituição da época, o vice-presidente da República, João Goulart, acumulava o cargo de presidente do Senado. Numa quinta-feira, às 11h30 da manhã, Jango abriu as portas do recém construído Palácio do Congresso Nacional para receber autoridades do Brasil e do exterior.
Em um discurso marcado pelas palavras “justiça” e “apreço”, ele enalteceu o papel de todos que contribuíram para a conclusão de uma “obra tão complexa e monumental”. Diante do presidente Juscelino Kubitscheck, destacou que Brasília era “símbolo da pertinácia [perseverança], do devotamento e da capacidade de ação do trabalhador brasileiro”.
João Goulart e Juscelino Kubitschek na chegada e durante a sessão de instalação do Congresso em Brasília
Arquivo Público do DF
Além de Jango, apenas dois parlamentares discursaram na sessão inaugural: o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli (SP), e o vice-presidente do Senado, Filinto Müller (MT).
Mazzili destacou que, na “épica arrancada para fincar uma cidade na selva”, muitos demonstraram “alguma dúvida sobre o acerto ou a possibilidade da empreitada”. Apesar disso, ele disse, a Nova Capital foi erguida como “o primeiro passo para a fraternal partilha dos bens econômicos, sociais e culturais”.
— Não existem soluções prontas para problema algum. E a inauguração de Brasília é apenas a entrega de um instrumento de ação aos homens que daqui deverão governar o país. Fizeram a sua parte os construtores e os pioneiros. Deram-nos um ambiente de beleza e serenidade, aliando ao funcional o espiritual — afirmou o deputado.
Por sua vez, o senador Filinto Müller lembrou que, “para a concretização do sonho mais que secular dos nossos estadistas”, nunca faltaram “a compreensão e a colaboração do Congresso Nacional”.
— Todo o Brasil compreendeu o significado de Brasília. Todo o Brasil lutou por ela. Todo o Brasil pôs naquele sonho as suas esperanças — disse.
Além de João Goulart, a sessão contou com pronunciamentos de Filinto Müller e Ranieri Mazzilli
Agência Nacional/Arquivo Nacional
Você vai ouvir agora os principais trechos do pronunciamento de João Goulart na sessão de instalação do Congresso Nacional em Brasília. Um discurso que pode ser considerado como a “certidão de nascimento” do Poder Legislativo na nova capital. Os áudios foram extraídos do portal “Arquivo Sonoro”, mantido pela Câmara dos Deputados.
Aqui, uma observação importante: quando se compara a gravação original com as notas taquigráficas da sessão, observa-se que um pequeno fragmento do discurso não foi capturado em áudio. É justamente quando João Goulart anuncia a presença de Juscelino Kubitscheck nas instalações do Congresso Nacional. Para assegurar a completa compreensão do conteúdo, esse “trecho perdido” de seis segundos foi gerado por inteligência artificial.
Arquitetura
Um dos prédios mais icônicos de Brasília, o Palácio do Congresso Nacional foi projetado por Oscar Niemeyer com a intenção de unir Senado e Câmara, ocupando um dos vértices do triângulo que delimita a Praça dos Três Poderes — local que abriga também, nos vértices da base, o Palácio do Planalto, sede do Executivo, e o Supremo Tribunal Federal, instância máxima do Poder Judiciário.
Niemeyer definiu assim a arquitetura do Palácio do Congresso:
“Arquitetura não constitui uma simples questão de engenharia, mas uma manifestação do espírito, da imaginação e da poesia (…). No Palácio do Congresso, por exemplo, a composição se formulou em função desse critério, das conveniências da arquitetura e do urbanismo, dos volumes, dos espaços livres, da oportunidade visual e das perspectivas e, especialmente, da intenção de lhe dar o caráter de monumentalidade, com a simplificação de seus elementos e a adoção de formas puras e geométricas. Daí decorreu todo o projeto do Palácio e o aproveitamento da conformação local, de maneira a criar no nível das avenidas que o ladeiam uma monumental esplanada e sobre ela fixar as cúpulas que deviam hierarquicamente caracterizá-lo.”
O consultor legislativo Marcos Magalhães afirma que, diferentemente do Rio de Janeiro, onde Câmara e Senado funcionavam em locais distintos, a arquitetura do prédio do Congresso em Brasília criou um novo padrão de relacionamento entre as duas Casas Legislativas, justamente pela proximidade entre elas.
A construção da nova capital, lembra Magalhães, foi uma decisão do presidente Juscelino Kubitschek, mas coube ao Congresso, ainda no Rio de Janeiro, autorizar e acompanhar as obras para viabilizar o nascimento de Brasília.
Assista abaixo a trechos do vídeo Arquivo S – O Congresso Nacional na Construção de Brasília, da Agência Senado.